Os fundamentos da metodologia de Trabalho em Alta Performance e o Diálogo entre Cérebros baseiam-se principalmente no património intelectual, teórico e operativo da Escola de Palo Alto. Esta escola de pensamento, criou as seus próprios, e geniais, constructos teórico-operativos e fundamentou-se também em amplas bases teóricas e epistemológicas que têm identidade mais do que suficiente, e até mesmo antiguidade, para serem consideradas de forma independente.
Intervir com esta metodologia não é compatível com o seguimento de qualquer teoria ou crença rígida que possa condicionar, antecipadamente, a lógica das intervenções. Damos prioridade ao conhecimento operacional, adquirido de acordo com o progresso do estudo das formas de funcionamento das situações que compõem os problemas, em detrimento da utilização de uma lógica hipotético-dedutiva. Desta forma, podemos evitar a tendência humana natural para tentar reconhecer, em vez de conhecer o funcionamento de cada sistema de relações problemáticas ou disfuncionais, tendo em conta as perceções individuais que condicionam as formas de agir.
Em seguida, são brevemente apresentadas algumas das principais fundaçmentos teóricos e referências históricas, tanto quanto possível na ordem cronológica da sua “criação”:
As 36 Estratégias Chinesas
Remontam à antiguidade oriental, mais propriamente chinesa, sendo um compêndio de conhecimento sobre a natureza e a interação humana, metaforicamente relacionado sob a forma de estratagemas. Documento de autor desconhecido, foi traduzido para muitos idiomas.
A arte da Metis
A deusa Metis pertence à mitologia grega e representa uma espécie de culto à astúcia, flexibilidade de espírito e sagacidade, retratada em boa parte dos clássicos gregos através das suas interações com personagens míticas como Ulisses, Zeus, Atena e Afrodite, entre outros.
A Arte da Persuasão
Uma arte quase inerente à condição humana, também representada pelas técnicas dos sofistas, tão criticada por Sócrates e Platão que acabaram por deixar um traço escrito do uso das mesmas técnicas para atacar os seus adversários. Um dos reconhecidos mestres clássicos desta arte é Blaise Pascal que no século XVII também a aplicou no campo da teologia. Mais tarde, recuperada operacionalmente por Milton Erickson no campo terapêutico, influenciou definitivamente as técnicas comunicativas desenvolvidas pelos investigadores da Escola Palo Alto. Na sua viagem histórica da arte à técnica, a persuasão pode ser entendida como uma ferramenta poderosa que, como qualquer outra, pode produzir resultados tão positivos como negativos, dependendo dos fins para os quais é utilizada.
Epistemologia construtivista
De acordo com a abordagem construtivista, cujas raízes são atribuídas ao pensamento de Immanuel Kant (século XVIII), a realidade é uma construção “inventada” pelo observador. Mais adequadamente, é um produto da perspectiva segundo a qual a observamos, das ferramentas cognitivas do observador e da linguagem através da qual a percebemos ou comunicamos. Não há realidade verdadeira, mas tantas verdades como potenciais observadores. Paul Watzlawick, um dos mais eminentes cientistas da Escola Palo Alto, considerado o principal “porta-voz” desta abordagem no século XX, estabeleceu a distinção entre realidade de primeira ordem e a realidade de segunda ordem, referindo-se às propriedades físicas das coisas para a primeira e, para a segunda, aquilo que o observador atribui a tais coisas. Esta distinção “simples” é uma notável redução da complexidade que serve de base de trabalho para facilitar a gestão operacional entre as diferentes percepções existentes em qualquer ambiente. A referência a Von Foerster e Von Glaserfeld como os principais teóricos do construtivismo radical também é imprescindível. Foerster chegou mesmo a afirmar que ele próprio era uma “construção” de Paul Watzlawick.
A Teoria Geral dos Sistemas
É uma conceção formalizada por Von Bertalanffy no seu livro “Teoria Geral dos Sistemas”, publicado em 1969. Em suma, o sistema é considerado como um conjunto organizado de coisas ou partes que são interdependentes e interagem entre si. Para os efeitos operacionais que nos preocupam, os principais conceitos a ter em conta são o princípio da homeostase e o feedback entre os elementos do sistema. Homeostase, ou entropia negativa, refere-se à capacidade do sistema de se manter organizado, equilibrado, mesmo que o seja de forma disfuncional. Quebrar este equilíbrio disfuncional e substituí-lo por um funcional é o principal desafio quando se trabalha com organizações mais ou menos complexas. O princípio do feedback ou da retroalimentação facilita a compreensão de um conceito importante: se é verdade que toda a causa provoca um efeito, também o efeito é transformado em causa, retroalimentando a causa anterior que acaba por tomar a condição de efeito. Isto ajuda-nos a compreender a circularidade das interações e a evitar a tendência para entrar numa simplicidade que complica, focando-nos na procura de causas e iludindo-nos com a existência de linearidade no funcionamento dos sistemas complexos.
Escola de Palo Alto
Grupo de investigadores que estabeleceu a sua atividade na cidade californiana de Palo Alto, entre o MRI, fundado por Don D. Jackson, e a Universidade de Stanford. Nomes como Gregory Bateson, Paul Watzlawick e John Weakland dedicaram-se principalmente à investigação sobre os efeitos da comunicação no comportamento humano, interessados em todos os fenómenos relacionados com a mudança e o funcionamento dos sistemas de interação humana na criação e resolução de situações problemáticas. Aprofunram a investigação na teoria da “duplo-vínculo”, inicialmente avançada por Bateson, alcançando resultados que podem ser considerados como uma verdadeira revolução copernicana no mundo da psicologia e da psiquiatria do pós-guerra (Segunda Guerra Mundial). Formulam o brilhante constructo de “tentativas de solução” como o fenómeno que mais contribui para a manutenção dos problemas humanos. Assim, criaram uma abordagem para a resolução de problemas, de grande valor teórico e operativo. Entre a abundante bibliografia produzida pelos seus membros, destacam-se as obras “Change” e “Pragmática da Comunicação Humana” (traduzido para português).
A lógica paraconsistente ou não tradicional
É uma lógica tolerante à inconsistência, ou seja, pode tratar inconsistências como a contradição que não é tolerada pela lógica clássica ou tradicional, como a lógica aristotélica. Outros conceitos lógicos, como o paradoxo e a crença, também são tolerados pela lógica paraconsistente. Um dos primeiros a desenvolver sistemas formais de lógica paraconsistente foi o cientista matemático brasileiro Newton da Costa que considera que esta lógica não se opõe à lógica tradicional, mas complementa-a. Newton da Costa chega a propor em certos casos, a substituição do conceito de verdade pelo conceito de quase verdade. Em termos operativos, encontramos uma convergência funcional com os pressupostos construtivistas da inexistência de uma realidade verdadeira e universal.